Muitos fotógrafos têm dificuldade no uso do Flash. Seja dentro de estúdio, seja em um local escuro onde se adiciona o flash para conseguir uma boa exposição, seja mesclando o flash com a luz ambiente. Esse artigo visa ajudar os fotógrafos a utilizar o flash em ambientes com luz natural, e irá abordar os seguintes tópicos:

· Princípios do flash;

· Quando e porque usar o flash com a luz natural?;

· Passos para adicionar o flash;

· Posição do flash em relação ao assunto;

· Problemas ao utilizar o flash com luz natural.

Princípios do Flash

Quando fazemos uma foto apenas com a luz natural, vamos controlar a exposição da fotografia (a quantidade de luz que a máquina irá registrar para fazer a foto) através do triângulo já bem conhecido: abertura da lente, velocidade do obturador e ISO. Ao controlar esses três parâmetros na máquina, controlamos se a foto será registrada com mais ou menos luz.

Ao adicionar um flash para realizar a fotografia, passamos e ter duas exposições! Isso mesmo, passamos a controlar duas exposições independentes: a exposição da luz ambiente e a exposição do flash. Esse princípio está explicado no artigo Como Funciona o Flash, e é de suma importância entendê-lo, pois assim você conseguirá compreender o princípio do Strobist (utilização de flash com luz ambiente).

Quando e porque utilizar o flash com a luz ambiente?

Conforme explicado no artigo Como Funciona o Flash, em geral, se estamos adicionando uma nova fonte de luz na fotografia, é porque provavelmente estamos com pouca luz ambiente. No entanto, algumas vezes podemos querer apenas preencher algumas sombras causadas pela luz disponível, ou melhorar a exposição, uma vez que temos um limite de captura da luz, definido pelo range dinâmico da máquina fotográfica.

Mas aí você me pergunta, o que é range dinâmico?

Bem, imagine uma cena de nascer do sol com prédios residenciais ao fundo. Esta é uma cena de alto contraste, ou seja, você tem uma área da foto muito clara (o céu) e uma área escura (a grama e os prédios). Quando nós olhamos para essa cena a olho nu, conseguimos captar os detalhes tanto da área clara, quanto da área escura. No entanto, a máquina não consegue. Ela tem um limite de quantidade de luz que irá capturar. Quando vamos fazer a foto, temos que tomar uma decisão, se iremos manter os detalhes nas áreas mais claras, mas acabar deixando as áreas escuras mais subexpostas, ou se queremos manter os detalhes das áreas escuras, mas perder informação das áreas claras (as High Lights).

Perceba que nós, fotógrafos, temos que tomar uma decisão de qual informação iremos abrir mão, já que a máquina não é capaz de registrar todas as informações disponíveis.

No entanto, quando adicionamos o flash, estamos tentando resolver parte desse problema. O que queremos é que a máquina consiga registrar os detalhes das áreas mais claras da nossa cena. Ao fazer isso, iremos deixar as áreas escuras mais escuras. No entanto, ao adicionar o flash, estamos colocando luz nas áreas subexpostas, fazendo com que os detalhes que seriam descartados pela máquina possam ser capturados.

Passos para adicionar o flash

Entendido o princípio do Strobist, vamos começar o processo de inclusão do flash no ambiente. Como falei anteriormente, temos duas exposições: da luz ambiente e da luz do flash. Se tentarmos, já de início, fazer a foto com o flash, será mais difícil controlar as duas exposições. Então, a dica é iniciar com a luz ambiente, e depois adicionar o flash.

Uma vez determinada a exposição da luz ambiente, acrescente o flash para determinar qual a potência deverá utilizar na cena. Claro, também pode utilizar um fotômetro para determinar essa potência, no entanto, não são todos os fotógrafos que possuem um ou mesmo saibam utilizá-lo de forma correta. Assim, sugiro fazerem o teste realizando fotos em diferentes potências e ajustando o flash até obter o resultado esperado.

Quando fazemos esse tipo de foto (strobist), temos que tomar cuidado com dois pontos principais: o primeiro é não deixarmos a foto artificial, ou seja, vermos uma luz no casal que não combina com o ambiente. O outro ponto que temos que tomar cuidado é com a cor da luz. Se estamos fazendo uma foto onde a luz ambiente é alaranjada, não devemos colocar uma luz branca (do flash) no casal, porque ficará artificial. A luz adicionada pelo flash tem que está coerente com a luz disponível do ambiente. Essa harmonia entre a luz artificial e disponível trará um resultado muito satisfatório a sua imagem.

 

Posição do flash em relação ao assunto

Na foto anterior, o flash está posicionado à frente, enquanto a luz disponível mais forte (o sol) está ao fundo. Em geral, essas são as formas mais usadas de Strobist. A luz ambiente em geral estará iluminando seu assunto por traz, fazendo uma luz de contorno nos objetos (ou luz de recorte, que é aquela luz que fica bem suave, ao redor da pessoa e que ajuda a criar uma separação dela com o plano de fundo) e o flash na parte da frente, para preencher as sombras. No entanto, também é possível fazer o contrário. Você pode escolher colocar a luz do sol à frente e o flash atrás da pessoa, para criar apenas a luz de recorte. Outra forma de utilizar o flash com a luz ambiente, ainda com o sol à frente da pessoa é para remover sombras muito duras. Imagine o sol, por volta das 15h ou 16h horas. Nesse horário, ele ainda está com uma luz muito dura e, ao iluminar o rosto da pessoa, por exemplo, poderá causar sombras indesejadas embaixo dos olhos, do nariz e do queixo. Para remover essa sombra, é possível colocar um flash, também posicionado à frente da pessoa, com um difusor grande e uma carga de potência baixa, para que as sombras não fiquem tão evidentes.

Problemas ao se utilizar o flash com luz natural

Ao se misturar o flash com a luz natural, iremos enfrentar alguns problemas. Uns mais simples de serem resolvidos, outros nem tanto.

A cor das luzes

A luz do flash é branca. Quando adicionamos o flash em um ambiente onde já existe uma luz predominante, temos que tomar cuidado para que a luz do flash não fique diferente da luz predominante. Veja um exemplo abaixo. Nesse caso não estava usando um flash, e sim um LED, mas o princípio é o mesmo. O quarto onde a noiva estava é iluminado por lâmpadas incandescentes, ou seja, bem alaranjado. O LED é branco. Ao iluminar a noiva com o LED, ela ficou branca, enquanto todo o resto do ambiente ficou laranja. Note o véu e o cabelo dela, atrás, como estão mais alaranjados, enquanto seu rosto e braços estão brancos.

Luz ambiente alaranjada e Led emitindo luz fria na noiva.

Ao adicionar o LED, ficou nítido que a noiva não estava sendo iluminada apenas com a luz ambiente e que uma luz foi adicionada na cena. Ao meu ver, isso não deixa a foto natural e até um tanto quanto estranha.

Em seguida, utilizei uma “gelatina” para fazer a correção da cor do Flash. Após colocar uma “gelatina” que modifica a luz para 3200K, obtive o seguinte resultado...

Veja que agora a cor da luz que está incidindo sobre a noiva está muito mais próxima da luz ambiente, não demonstrando que uma luz foi adicionada à cena.

Note que mesmo a foto sendo feita em RAW e o balanço de branco sendo ajustado na pós-produção, suas luzes ainda ficarão diferentes, porque você efetivamente possui duas fontes de luzes em cores diferentes (branca do LED ou flash e alaranjada das lâmpadas do ambiente). Isso ocorre não só com a lâmpadas, mas qualquer fonte de luz. Se estamos ao ar livre, a luz do sol do inicio da manhã e final da tarde não emite a cor branca. Se simplesmente colocarmos um flash na cena, também haverá diferença de cor.

Velocidade de sincronia

Como já foi explanado, uma dica interessante é...primeiro realizar a fotometria da luz ambiente e depois incluir o flash. Mas pode acontecer que, ao medir a exposição da luz ambiente, tenhamos à uma velocidade acima de 1/250. Se isso acontecer, a depender do flash que está se utilizando, teremos o problema da velocidade de sincronia da máquina com o flash (se quiser saber mais sobre esse assunto, leia o artigo Como Funciona o Flash). Para resolver esse problema, temos algumas opções.

A. Se o flash possui HSS (High SpeedSync), basta habilitar essa opção que você poderá ultrapassar a velocidade de sincronia. No entanto, o HSS diminui consideravelmente a potência do flash. Isso quer dizer que se você tiver uma luz ambiente muito clara (o sol, por exemplo) e precisa que seu flash seja forte o suficiente para aparecer na foto, mesmo com a luz do sol também aparecendo, pode ser que com o HSS o flash não tenha potência suficiente para que isso aconteça. Mesmo colocando o flash em potência máxima (1/1), ele ainda não será capaz de sobrepor a luz do sol. Nesse caso, pode-se tentar abaixar o ISO e fechar a lente, mas lembrando que ao alterar esses parâmetros, também estará alterando como a luz do flash irá se comportar na sua cena.

B. Outra possibilidade é tentar chegar o flash mais próximo do seu assunto (modelo, por exemplo), fazendo com que sua potência efetiva aumente. No entanto, em alguns casos isso não é possível, pois você pode estar querendo pegar um ângulo mais aberto, o que faria o flash aparecer na foto.

C. Como no item a. algumas vezes, mesmo com o flash abaixo da velocidade de sincronia, pode acontecer de um único flash não ter potência suficiente para iluminar a cena e sobrepor a luz ambiente. Nesse caso, pode-se chegar o flash mais próximo do assunto (modelo, por exemplo), mas que pode acarretar no problema já descrito no item a., ou pode-se acrescentar mais flashes no setup se estiver usando speedlight.

Conclusão

Como expliquei, o princípio básico na prática do Strobist é ter sempre em mente que você possui duas exposições: a exposição da luz ambiente e a exposição do flash. Ao lembrar disso, as coisas ficam mais fáceis. Como dica, inicie fotometrando a luz ambiente. Faça a foto e utilize uma exposição que deseja para que a luz ambiente ilumine a foto corretamente. Em seguida, ligue o flash e faça uma nova foto, procurando a potência correta para que sua luz fique equilibrada com a luz ambiente. Quando chegar no resultado desejado, só fazer a foto final. E lembrando sempre de corrigir a cor da luz do flash para que não fique muito diferente da luz ambiente e não torne a sua foto irreal.

Um abraço, 

Glauco Castro.